O FUTURO NÃO DEMORA

FAIXAS DO ÁLBUM
FICHA TÉCNICA

Produzido por Daniel Ganjaman 

Co-produzido por BaianaSystem

Exceto faixas “Redoma” e “Certoh pelo Certoh” produzidas por João Meirelles e Daniel Ganjaman

“Arapuca” e “Saci” produzidas por Dudu Marote e Seko Bass

Gravado nos estúdios Casa das Máquinas, Red Bull Music Studios, Coaxo do Sapo, Ilha dos Sapos, Sacatar, BStudio e El Rocha.  

Mixado por Daniel Ganjaman, exceto “Navio”, mixada por Adrian Sherwood.

Capa por Filipe Cartaxo e Filipe Bezerra

Projeto Gráfico por Filipe Cartaxo

 

No ano em que completa 10 anos, o BaianaSystem entrega ao público seu III disco de carreira intitulado O Futuro não Demora. O álbum conta mais uma vez com a produção de Daniel Ganjaman e co-produção do próprio grupo, assim como aconteceu com o premiado “Duas Cidades” de 2016. Desta vez, o processo aconteceu de maneira bem diferente.

No disco anterior houve um movimento de ida para gravar em SP e um trabalho minucioso por parte de Ganjaman de interpretar e organizar as ideias que já eram apresentadas ao vivo. Desta vez houve um trabalho profundo de pesquisa, de pré-produção das bases e conceituação de todo o ambiente, muito fincado num afastamento da atmosfera urbana de Salvador e de um mergulho na Ilha de Itaparica. Essa ponte com a Ilha se deu através do grupo “Maré de Março”, um movimento sócio ambiental formado por jovens da ilha, de caráter conservacionista que busca uma nova relação com aquele território. Esse convívio trouxe uma visão da Baía de Todos os Santos como uma grande Mãe e a importância de Itaparica em sua relação imprescindível com a história do Brasil, com o entendimento de nossa ancestralidade.

O disco também marca a presença de faixas produzidas por parceiros de longa data como Dudu Marote e o Dj, produtor e compositor João Meirelles, músico integrante do grupo desde 2012 e que trouxe elos importantíssimos para a construção desse mapeamento.

O Futuro Não Demora é um disco com muitas participações e colaborações em todos os níveis, e traz uma narrativa que nos leva por um fio condutor com início, meio e fim. A primeira faixa chama-se “Água”. A última “Fogo”. E temos a “Melô do Centro da Terra”, faixa que marca o meio da história, dividindo o disco em lado A e B, Água e Fogo, representando elementos vitais para o entendimento dessa obra e suas ramificações.

Essas duas faixas remetem ao início do trabalho de criação e composição que são partes de uma sinfonia que começou a ser escrita juntamente com o maestro Ubiratan Marques, regente da Orquestra Afrosinfônica e que tem grande participação no disco, compondo, tocando e fazendo arranjos.

Na faixa de abertura, a participação de dois ícones da música popular brasileira: a dupla Antônio Carlos e Jocafi, responsáveis por inúmeros sucessos na década de 70, co-autores desta e de outra música emblemática do disco, “Salve”. Dois ijexás em sua essência, ritmo fundamental para o entendimento da música produzida na Bahia há muito tempo, e que aparece de maneira bem marcante no álbum. “Salve” conta também com a participação de B Negão, parceiro desde o disco de estreia e que encerra de maneira forte e marcante essa música que homenageia a Zulu Nation, Nação Zumbi, Ilê Aiyê e a Orkestra Rumpilezz.

Com a carga política forte trazida por esses nomes e a clara ligação com a música latina e da América Central, a viagem segue com a música “Sulamericano” que tem a participação de Manu Chao. Manu traz para faixa a figura do “Señor Matanza” personagem já presente em outras músicas suas, e nos banha com suas imagens e ideia de uma real América Latina.

Outras participações que chegam de maneira marcante são os paulistas Curumin e O Novíssimo Edgard, que colaboram na faixa “Sonar”, com ares de Rocksteady e cheiro de Jamaica, fazendo a comunicação pelo mar diretamente com o Centro da Terra.

Aí aparece a figura mítica do Mestre Lourimbau, cantor, compositor e artesão de Salvador, que vem entoando uma espécie de mantra no “Melô do Centro Terra”, diálogo de Berimbau e Guitarra Baiana composta originalmente para trilha sonora do filme “Trampolim do Forte”, rodado em Salvador há exatos 10 anos.

A partir daí pegamos um “Navio” e começamos a atravessar o Atlântico em direção ao Fogo, num lamento vindo de Angola e com o peso dos tambores do samba-reggae. “Navio” tem participação e regência de Mestre Jackson, uma lenda da percussão na Bahia, com passagens pelo Olodum, Comanches do Pelô, Apaches do Tororó etc, e que regeu a gravação da maneira clássica dos blocos afro, com um time de 10 percussionistas gravando ao vivo. E novamente através dos movimentos Atlânticos seguimos para a Inglaterra para se juntar ao produtor inglês Adrian Sherwood, clássico produtor de DUB com grande ligação com artistas jamaicanos, para finalmente termos uma faixa Samba-reggae Dub orgânica, uma teia de ligações da diáspora.

O Navio então se desdobra em um barco, um pequeno bote que faz a ligação com o Recôncavo Baiano e ao mesmo tempo com o sertão mais distante, e vai buscar numa comunidade Quilombola de Senhor do Bonfim o “Samba de Lata de Tijuaçu” onde as sambadeiras se fundem numa embolada onde o mar vira sertão, e o orgânico se funde aos beat eletrônicos e synths produzidos por João Meirelles.

Imagens de armadilhas, helicópteros, carros, sacis urbanos, antropofagias, e todo esse caldeirão da cidade toma conta desse lado fogo, e chegam com força na faixa Certoh pelo Certoh, um relato direto e certeiro do rapper Vandal, um cronista das ruas e quebradas de Salvador, que aparece aqui também menos banhado de beats, mas de maneira crua, calçado nos tambores. Essa faixa também traz a desconstrução e vitalidade das guitarras de Junix 11, produtor, compositor e colaborador do BaianaSystem há muitos anos, e que ao longo do disco deixa sua marca inconfundível.

O disco mostra também um trabalho muito forte de arranjos e concepção de percussão por parte de Icaro Sá e Japa System. Ícaro que vem do pelourinho e tocou muitos anos com Ramiro Musotto, Orkestra Rumpillezz, Arto Lindsay e muitos outros artistas, é colaborador constante do BaianaSystem em palcos e gravações, e Japa System tem um trabalho de pesquisa muito forte com a percussão eletrônica e sua fusão orgânica com a percussão afro-baiana, e é integrante do grupo também há muito tempo.

A obra se encerra na faixa Fogo, mais uma vez com o maestro Bira e a Orquestra Afrosinfônica, onde aparecem novamente os versos “Já aconteceu com você, aconteceu comigo”, citados no início na faixa Salve, e que faz com que o disco volte para o início e tenha um sentido de continuidade, de ciclo. Como sempre acontece com o BaianaSystem, tudo isso só completa todo o sentido com as imagens que banham todo o processo. Ideogramas, símbolos, grafismos, mapas, seres e cores se juntam aqui para banhar nossos sentidos, traduzir, ajudar a contar esse capítulo que mergulha na história para nos entender agora, no momento que estamos e pra onde podemos apontar. O Futuro não Demora.